29-08-2024
Pesquisa brasileira sobre turismo comunitário e economia criativa fará intercambio com pesquisadores da Alba Sud
Werter Valentim de Moraes | UFOPA Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, por meio do seu curso de turismo está desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Territórios Criativos como Dimensão para a Sustentabilidade: Análise dos Processos Políticos da Economia Criativa e do Turismo de Base Comunitária” com com a colaboração de várias instituições.
Crédito Fotografía: Caminho do Sertão, CRESERTÂO. Imagen de Werter Valentim de Moraes.
Atualmente o turismo de base comunitária está adquirindo importância não somente nas comunidades, ONG's, movimentos sociais e poderes públicos, mas também, está obtendo espaço no cenário científico, como objeto de estudos, pesquisas e práticas extensionistas relacionadas à mobilização e participação social com implicações diretas, por exemplo nas mudanças climáticas.
No Brasil as primeiras experiências do turismo comunitário vieram com a prainha do Canto Verde no Ceará, que culminou com a REDE TUCUM - Rede de Turismo Comunitário do Ceará, em 2003, e, em 2009 o surgimento do coletivo da REDE TURISOL - Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário, fomentado pelo Projeto Bagagem. O Estado de Minas Gerais é líder em crescimento turístico no ano de 2024, acumulando alta de 12,6% em seu desempenho no setor, versus a média nacional de 4,9%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A ideia principal desta publicação consiste em apresentar uma pesquisa pioneira no Brasil, investigando as congruências da prática da economia criativa em territórios que desenvolvem o turismo de base comunitária, de forma a estabelecer sinergias para políticas públicas. Neste sentido, a Alba Sud integra a rede de parceiros, a ser convidada para uma incursão no Brasil, contribuindo assim para a evolução do turismo comunitário brasileiro.
A Universidade Federal de Ouro Preto vinculada a Cátedra da Unesco de Políticas Públicas e Economia Criativa, por meio do seu curso de turismo está desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Territórios Criativos como Dimensão para a Sustentabilidade: Análise dos Processos Políticos da Economia Criativa e do Turismo de Base Comunitária” com o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais. Integram a esta pesquisa uma rede de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. Além de, Entidades internacionais como o Observatório CREATOUR de Portugal e Alba Sud de Espanha que também se envolverão através de um intercambio a ser realizado.
O Seminário de Lançamento do Projeto de pesquisa foi operacionalizado por meio de comissões e grupos de trabalhos juntos aos pesquisadores e colaboradores do Projeto de pesquisa. Assim, a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM foi a principal articuladora do grupo focal do destino de turismo comunitário Veredas/Peruaçu; a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG apoiou o territorio turístico Espinhaço/Serra dos Alves, a Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF foi a articuladora para com o destino turístico do movimento dos sem terra (MST), e, a Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, além de participar em todos os grupos, foi a responsável pelo destino do Vale do Jequitinhonha. O Seminário foi realizado via online, gravado pela plataforma Google Meet, o que permitiu uma ampla participação e acessibilidade, além de ser disponibilizado para todos os convidados presentes.
Na programação do Seminário, por meio da abordagem de metodologia ativa, com a participação das comunidades, ocorreu a apresentação do organograma do Projeto de pesquisa, os conceitos norteadores do turismo comunitário e da economia criativa que fundamentam as ações do Projeto de pesquisa, além da apresentação dos destinos pelos protagonistas comunitários.
O eventoaconteceu no dia 26 de março de 2024, das 14h às 17:30h. Contou com a participação de representantes do Observatório CREATOUR, Portugal e Alba Sud, Espanha.
O coordenador pesquisador Marcos Knupp da UFOP apresentou o Projeto de pesquisa, em seguida o pesquisador associado Werter Valentim de Moraes explanou sobre os princípios do turismo comunitário e o pesquisador colaborador da UFV Elias José Mediotte apresentou os princípios também da economia criativa. Na sequência, iniciaram as apresentações das respectivas comunidades e instituições convidadas. Foram elas: Assentamento Denis Gonçalves - MST; Comunidade Sagarana, representada pelo Centro de Referência em Tecnologias Sociais do Sertão - CRESERTÃO e comunidade Oleiras do Candeal - Mosaico Veredas-Peruaçu; Comunidade Serra dos Alves representada pelo Instituto Bromélia; a Comunidade Capivari - Cordilheira do Espinhaço; e, a Artesãs e Ceramista de Turmalina, representada pela Secretaria de Turismo de Turmalina - Vale do Jequitinhonha. Além dessas comunidades, além do Instituto Rosa e Sertão.
As apresentações foram iniciadas pelo Assentamento Denis Gonçalves do Movimento dos Sem Terra – MST(Figura 1), situado na Zona da Mata Mineira, um movimento popular que tem a sua própria organização e diretrizes. Foi feita pela coordenadora do coletivo intersetorial de patrimônio e turismo e, de acordo com ela, a proposta de turismo nasceu a partir de uma compreensão da coordenação, local e nacional do MST, que perceberam no território, a riqueza da cultura camponesa e da agroecologia, que poderiam atrair visitantes para a região. Algumas atividades que costumam realizar com visitantes: história da questão agrária brasileira e da imigração; diáspora negra/escravidão; observação de aves; arqueologia.
Figura 1: Material apresentado no Seminário sobre o Turismo de Reforma Agrária do Movimento Sem Terra - MST.
Em seguida, a comunidade Sagarana fez sua apresentação, representada pelo Centro de Referência em Tecnologias Sociais do Sertão - CRESERTÃO (Figura2). Sagarana está localizada na cidade de Arinos/MG, próxima a Brasília, o que a torna um espaço cultural muito pulsante. Foram apresentadas as práticas tradicionais realizadas na comunidade, entre elas se destacam: feitura de farinha; fiação; frutos do cerrado; vivência do baru; medicina do cerrado, e por fim circuito das estátuas. Essas experiências são realizadas para os turistas como "vivências", servindo como um espaço de trocas, afetos e de fortalecimento da identidade da cultura local. O Cresertão realiza festivais e eventos, estando em destaque: Festival Sagarana, Caminho do Sertão e Cinebaru: Mostra Sagarana de Cinema sendo um espaço de discussão e provocação de identidade cultural, trazendo os saberes tradicionais vinculados a práticas contemporâneas.
Figura 2: Material apresentado no Seminário sobre a Comunidade de Sagarana.
A apresentação da comunidade Serra do Alves (Figura 3) representada pelo Instituto Bromélia, está localizada próximo ao Parque Municipal Natural do Alto Rio do Tanque, que tem como objetivo preservar ecossistemas naturais de relevância ecológica e de beleza cênica. O turismo comunitário vem se fortalecendo com experiências como: visitas a apiários de abelhas sem ferrão, banhos de natureza, passeio pelos campos rupestres da região, e, as festividades tradicionais, sendo a principal a festa de São José e a festa de Nossa Senhora do Rosário.
Figura 3: Material apresentado no Seminário sobre a Comunidade Serra dos Alves.
Em seguida, foi apresentado as Oleiras do Candeal(Figura 4), um grupo formado por mulheres que trabalham o artesanato com barro, produzidos com técnicas que são passadas de geração em geração. As Oleiras, integram a Rede ARTESOL - Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro, que atuou no território pela estruturação e salvaguarda dessa produção, de modo que conseguiram realizar a construção do Galpão da Olaria, onde desenvolvem hoje as atividades e ações sustentáveis. O Instituto Pequi auxiliou na criação do "Chalé: morada dos saberes", totalmente construído com tecnologias sociais. Atualmente, o grupo de artesãs oferece a vivência do barro, chamada "O barro em transformação”, apresentando os processos de produção das peças e a história de como começou.
Figura 4: Material apresentado no Seminário sobre as Oleiras do Candeal.
A representante do Instituto Rosa e Sertão (Figura 5) apresentou a Rede de Turismo de Base Comunitária do Mosaico Sertão Veredas - Peruaçu. O Mosaico envolve unidades de conservação ambiental, comunidades tradicionais e a Terra Indígena Xakriabá. Esse projeto no Mosaico Sertão Veredas - Peruaçu tem o objetivo de valorizar os recursos naturais e as tradições culturais, assegurando o protagonismo das comunidades locais, criando emprego e renda por meio de um diálogo contínuo para a preservação do bioma do cerrado.
Figura 5: Material apresentado no Seminário sobre a Rede de Turismo de Base Comunitária do Mosaico Sertão Veredas - Peruaçu.
A Secretaria de Turismo de Turmalina, apresentou as comunidades de Campo Alegre, Campo Buriti e Caçaratiba do Vale do Jequitinhonha (Figura 6). O artesanato de cerâmica e o bordado mudaram a lógica de desenvolvimento nesta região do Vale do Jequitinhonha ao desempenhar um papel crucial para a melhoria da renda, enquanto o turismo comunitário contribui para uma valorização interna dessas comunidades, quando os visitantes têm a oportunidade de vivenciarem todos os processos de fabricação das obras de artes.
Figura 6: Material apresentado no Seminário sobre as comunidades de Campo Alegre, Campo Buriti e Caçaratiba do Vale do Jequitinhonha.
A comunidade de Capivari encerrou as apresentações (Figura 7). Localizada nos arredores do Parque Estadual Pico do Itambé, em Serro/MG, Capivari é caracterizada por sua abundante geo-biodiversidade. Os residentes são os principais protagonistas do cenário turístico local, sendo descendentes de mineradores de ouro e diamantes. Capivari oferece cachoeiras, trilhas, paisagens deslumbrantes e uma biodiversidade exuberante.
Figura 7: Material apresentado no Seminário sobre a comunidade de Capivari.
Um dos propósitos do Seminário, além de apresentar o Projeto de pesquisa para as possíveis comunidades a serem visitadas para a investigação em campo, foi de diversificar as fontes de informações, aumentando com qualidade os dados que estão sendo coletados para, com mais propriedade, selecionar os destinos de turismo comunitário para o intercambio que será realizado com os pesquisadores internacionais membros da Alba Sud e da CREATUR.
A equipe do Projeto de pesquisa, com o aval dos parceiros colaboradores, está aberta a intercâmbios e trocas virtuais e presenciais com possibilidades de formatação de roteiros de vivências, imersões e possíveis expedições técnicas científicas para aprofundamentos em temáticas correlacionadas à dos destinos que estamos atuando com pesquisadores de turismo comunitários e de economia criativa nacionais e internacionais.Interessados favor comunicar pelo email: projetoterritorioscriativos23@gmail.com
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